segunda-feira, 6 de março de 2017

Desafios do Big Data no Brasil

Eu venho pesquisando sobre Inteligência Artificial (IA) desde o ano de 1986. São mais de trinta anos de estudos, pesquisas e trabalhos. Naquele tempo, o acesso para as aplicações de IA estavam restritas para um grupo pequeno de pessoas e elas eram bastante limitadas. O livro "Inteligência Artificial Usando Linguagem C" do Herbert Schildt, publicado em 1989, edição em português pela editora McGraw-Hill do Brasil foi um dos primeiros livros que apresentaram aplicações práticas para a inteligência artificial em português.

No capítulo 9 (Parecendo Humano), o Herbert Schildt apresenta os conceitos de uma aplicação famosa na época de diagnóstico médico chamada ELIZA, baseada na psicologia rogeriana que foi criada pelo Joseph Weisenbaum. Com base nos conceitos do ELIZA, o autor desenvolveu o programa Doutor. No livro foram apresentados os códigos em linguagem C das várias versões do aplicativo.

Passados quase trinta anos é fácil perceber que as principais preocupações do Schildt para a inteligência artificial ainda estão presentes no nosso dia-a-dia. É evidente que temos à nossa disposição uma quantidade muito maior de recursos e que as aplicações de IA deixaram de ser restritas e limitadas e passaram a incorporar a rotina de todas as pessoas. Aplicações de diagnóstico médico estão disponíveis via internet, por exemplo.

Uma das faces da inteligência artificial é o Big Data. É uma tecnologia que vem sendo incorporada na operação da maioria das empresas nacionais. São sistemas de compras, vendas, recrutamento de funcionários e pessoas, entre outros que fazem parte da rotina corporativa.

As análises dos dados do Big Data muitas vezes são feitas por algoritmos computadorizados e recebem uma camada de refinamento realizada por analistas humanos. Ainda não veio à tona, mas em breve virá, a questão do impacto do Big Data na sociedade humana.

Pode parecer estranho para muitos, mas o Big Data reflete o que uma sociedade tem de bom e de ruim. Por exemplo, em uma sociedade como a brasileira em que existe preconceito no mercado profissional contra a mulher as análises Big Data dos sistemas de recrutamento vão perpetuar inadvertidamente o atual comportamento de oferecer salário menor para a mulher para o mesmo cargo ocupado por um homem. As análises do Big Data do Comportamento do consumidor em lojas também estão sendo impactadas pelos preconceitos existentes na sociedade brasileira.

Isto ocorre porque a base de dados analisada é distorcida pelos comportamentos atualmente existentes. Em alguns casos estaremos trabalhando com bases distorcidas por causa do preconceito contra um determinado gênero, ou contra uma determinada raça, ou contra o cabelo branco (idade), ou contra uma determinada aparência ou etc. Antes de iniciar uma análise do comportamento pelo Big Data é preciso ajustar as bases de dados para que elas não reflitam os preconceitos existentes na sociedade brasileira.
A nossa sociedade é a campeã mundial dos mais diferentes tipos de preconceitos. O principal é a renda. Uma análise de Big Data que tente prever o comportamento futuro do consumidor que seja baseada em uma base de dados repleta de preconceitos vai gerar previsões que não irão se concretizar. Investimentos grandiosos serão perdidos por conta destas distorções.

A IA não é capaz de corrigir as graves distorções da sociedade brasileira. Aliás ela age no sentido contrário, ou seja, de aprofundar as distorções. Ainda os computadores precisam da inteligência humana para tomarem boas decisões. É preciso olhar a tecnologia Big Data com olhos no que está sendo coletado para evitar a perda de bilhões de reais no futuro.

Um comentário:

  1. Mansur, meu receio é, quem irá alimentar os computadores; com a inteligência humana de quem; para que se possa tomar boas decisões?

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